sábado, 3 de maio de 2008

A Música do Silêncio - Relação entre pintura e música


Desde a Antiguidade, os músicos aproveitaram a linguagem das cores para traduzir seus conceitos abstratos; de fato, são vários os empréstimos semânticos que uma arte há feito da outra. A cor, croma entre os gregos, é uma palavra que se usa como equivalente de timbre. O adjetivo brilhante é empregado pelos músicos no sentido de nítido.

Não obstante, ainda que os exemplos sejam menores, o mesmo sucede o inverso, pois os termos tom e harmonia foram uma herança que a música importou da pintura. A chamada escala cromática, na música, Rousseau explicaria: “... a escala cromática está em meio a diatônica e a enarmônica, assim como a cor está entre o branco e o negro. Ou bem porque o cromatismo estabelece ao diatônico com seus semitons, que possuem, na música, o mesmo efeito que a variedade das cores tem na pintura.” Além disso, foi ele quem tranqüilizou seus contemporâneos ao assinalar que os sons não podem ser isolados, separados uns dos outros tal como sucede com as cores.

Dentro deste debate os românticos se interessaram pelas afinidades e discrepâncias existentes entre as duas disciplinas. Músicos a altura de Wagner relacionaram as cores com a expressão musical, e Chopin dizia que a lógica de sucessão dos sons, reflexão aureolar, era um fenômeno análogo a reflexão das cores. As fronteiras entre a música e a pintura se encurtaram mais no Romantismo, quando se despertou a paixão pelo cromatismo e proliferaram as composições do tipo pintura musical ou música de programa, em que esta toma como base uma representação extra musical, frequentemente pictórica, narrativa ou poética, e esta permanecem descritas nos programas de mão que se repartem entre o público.

Henri Matisse era violinista, o mesmo que Paul Klee. Este último opinava que a música e a pintura viviam em épocas distintas e, por tanto, eram artes defasadas. Dado que a música já havia resolvido o problema da abstração no século XVIII, a pintura teria que começar pelo barroco e superar a confusão que trouxe a música do século XIX. Outro maestro da Bauhaus, colega de Kandinsky e de Klee, Johannes Itten, criaria um sistema dodecafônico, dividido em cores quentes para as quintas e cores frias para as quartas. O projeto de Henri Lagresille, chamado método Lagresille em sua honra, trata de traduzir as obras maestrais da música clássica em quadros de cor, assinando equivalentes destes a certos acordes e movimentos musicais, que fizeram de uma ttocata de Bach um esplêndido mosaico multicor de suaves celestes e fortes púrpuras.

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